Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul viveu a maior tragédia climática de sua história.
Cerca de três meses após as enchentes, os jornalistas Eduardo Seidl e Raphaela Donaduce Flores percorreram de bicicleta o caminho que as águas fizeram, a partir do Guaíba até encontrar o mar, na Praia do Cassino.
Em oito dias, foram cerca de 500 quilômetros pedalados, contornando a costa oeste da Lagoa dos Patos, com paradas nas cidades de Barra do Ribeiro, Tapes, Arambaré, São Lourenço, Pelotas e Rio Grande.
Narrado em forma de diário de viagem, numa expedição-resistência à velocidade e ao consumo, os viajantes percorrem o território, documentando as marcas deixadas na paisagem e na vida da população.
O livro foi publicado pela Editora Libretos, em outubro de 2025.
Contemplado pelo Edital Sedac Pnab RS — 31/2024 — Memória e Patrimônio, este projeto é financiado pela Política Nacional Aldir Blanc, PRÓ-CULTURA RS – Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul e realização do Ministério da Cultura – Governo Federal.
Este é um daqueles livros que não se encaixa em nenhuma das definições tradicionais, o que sempre me parece uma alegria, uma libertação para os leitores, ainda que o tema de fundo seja triste e vulnerante: a terrível enchente que assolou o Rio Grande do Sul e as consequências para as comunidades ribeirinhas do sul do estado.
Raphaela e Eduardo nos levam a ver a tragédia, no entanto, por uma mistura revigorante de recursos. Trata-se de uma reportagem, visual e escrita, mas também de um livro de viagem sobre pedais. É uma denúncia das condições dos que têm menos, mas também um convite a pegar a estrada. É uma crônica de um tempo e, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre nossa relação com a natureza.
Por isso, é difícil destacar uma virtude, ou “a” virtude deste livro. Já na composição híbrida das narrativas, parte fotográfica, parte texto, haverá uma mistura perfeita dos parceiros-autores, ocupados, me parece, em oferecer a quem chega uma experiência mais completa, mais complexa, mais imbricada do que significa avançar de bicicleta, à velocidade da bicicleta, de Porto Alegre a Rio Grande.
E sempre as águas à margem. Sempre esta vida e esta ameaça, que é o novo traje dessa velha companheira dos gaúchos das margens.
Um trabalho primoroso de investigação, de aventura, de solidariedade.
Agora é a vez dos leitores pegarem a estrada. Ao fim, gosto de pensar que este livro é um convite a olharmos para o mundo com mais vagar e coragem”.
Pedro Gonzaga, escritor e tradutor
